domingo, 1 de maio de 2011

A Importância do Brincar

A Importância do Brincar
Franciela Uitdewilligen
No dia 12 de outubro comemoramos o Dia das Crianças, mas me parece que este dia vem perdendo a sua magia e muitos pais e crianças nem sabem o significado e a importância que tem o brinquedo. Algo tão precioso e tão fácil de resgatar. Parece ser mais um dia daqueles que atazana os pais anualmente, com severos débitos no orçamento de outubro. E há razões de sobra para isso, porque é real a excitação da indústria em suas projeções de vendas crescentes no setor de brinquedos, é real – e intensa – a pressão publicitária para que estas projeções se realizem, são reais os efeitos de tudo isso sobre a molecada, insaciável diante de tantos produtos sedutores e inovados.

Um momento que considero problemático no desenvolvimento das crianças hoje é quanto ao que consiste o ato de brincar. Questiono-me se as brincadeiras de hoje podem realmente ser consideradas como produtivas e dignas de participar do desenvolvimento dessas crianças.

Muitas dificuldades enfrentadas na infância dos pais das crianças de hoje, não fazem parte da vida de seus filhos. Dificuldades referentes à vontade de brincar e a necessidade de criar seus próprios brinquedos, o que estimulava vantajosas capacidades de desenvolver a criatividade. A realidade, hoje, é que a cada dia que passa vê-se um número maior de reivindicações infantis por brinquedos prontos e que proporcionam pouquíssimas possibilidades de brincar ou de criar.

A modernidade trouxe consigo novas maneiras de brincar e uma individualidade do sujeito que o envolve em uma redoma impenetrável de isolamento e introversão, toda essa suposta evolução do brinquedo e das brincadeiras não visou à socialização do sujeito, mas sim uma proposta que tornou a criança com cada vez menos relacionamentos socializados, deixando para trás atributos dignos de brincadeiras do passado.

As brincadeiras socializadas, jogos de faz de conta, brincadeiras em grupo estão abandonadas dando lugar a brincadeiras individualizadas, o que muitas vezes, vem a prejudicar o crescimento social. Muitos pais preocupam-se em ocupar seus filhos e esquecem-se de proporcionar oportunidades de desenvolver suas potencialidades nas relações interpessoais de uma infância cada vez mais globalizada.

A informatização também é responsável por esse isolamento na infância. Oferecendo aparelhos eletrônicos que à primeira vista são atraentes por ocuparem as crianças, mas a maioria destes apresenta um chamariz de atividades que viciam ao seu manuseio. Não estou dizendo que isto não é importante, mas depende do uso e do tempo que a criança faz dele.

As crianças não brincam por falta do que fazer, não é mera diversão. Brincar é uma necessidade vital e insubstituível na infância. Percebe-se que as brincadeiras servem como linguagem para a criança, um simbolismo que substitui as palavras. A criança experiência na vida muita coisa que ainda é incapaz de expressar verbalmente, e deste modo, utiliza a brincadeira para formular e assimilar aquilo que vivencia.

Brincar é brincar, seja com um graveto, um carrinho, uma tampa de panela, com uma boneca ou sem nada mesmo, molhar-se em qualquer poça d’água, correr contra ou a favor do vento, soltar pipa, pintar-se e pintar tudo o que vê, e isso os pequenos sabem como fazer. Os únicos cuidados que cabe aos pais são de cuidar para que não se machuquem e de não atrapalhar a imaginação que corre solta nestas horas. Pois, é com ela que as crianças conseguem entrar no universo dos símbolos e da linguagem, para criar formas autênticas de se relacionar com a vida e com os outros.

É também, através dos brinquedos e das brincadeiras, que a criança pode ir expressando, representando situações, através da fantasia os seus desejos, trabalhando seus medos, elaborando os seus conflitos, vivendo o faz-de-conta como suporte para a realidade e até mesmo satisfazer suas necessidades emocionais.

E, quanto mais objetos do cotidiano estiverem acessíveis, maior será a possibilidade de criar. Nada melhor do que uma vassoura para se transformar em avião em casa – ou sabe-se lá o quê. Basta permitir que tudo transcorra por si, num ambiente de afeto. Deixar brincar é deixar que a garotinha de um ano e meio esparrame brinquedos pelo quarto – e por toda a casa, se for o caso -, que arraste banquetas e cadeiras para fazer de trenzinho, ou que investigue os armários de roupas e panelas, que abra gavetas e mexa em tudo o que não seja prejudicial a ela. É deixar que faça coisas estranhas e engraçadas, como também poder desenhar o que se quer e pintar do jeito que sabe fazer. Não há lógica racional quando se brinca, e esta é a grande riqueza deste momento de ser criança. É uma confusão quando os pequenos brincam de verdade, e uma casa "brincada" não passa o dia inteiro arrumadinha.

Não é à toa que as crianças invertem os papéis nas brincadeiras e podem ser: papai, mamãe, professor. Já que na vida real precisam depender e se submeter à vontade dos adultos, é através da brincadeira que pode ser este adulto que imagina tão poderoso e maravilhoso, e desta forma podem ir elaborando os seus sentimentos de submissão, autoridade, necessidade de autonomia e independência.

As crianças evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas por outras crianças e adultos. Nesse processo, as crianças ampliam gradualmente sua capacidade de visualizar a riqueza do mundo externamente real. A brincadeira é a prova evidente e constante da capacidade criadora e do uso da fantasia.

A criança que não brinca não se aventura em algo novo, desconhecido. Se, ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceito o desafio do crescimento, a possibilidade de amar, de tentar e arriscar para progredir e evoluir.

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