Educar é Semear

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

O PAPEL DO LÚDICO NA ATIVIDADE PEDAGÓGICA.

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KISHIMOTO (1995), ao influenciar a história da pedagogia pré-escolar brasileira, a
partir de uma entrada através do movimento da Escola Nova, os pensamentos Froebeliano,
Montessoriano e Decrolyano têm-se transformado, principalmente após os anos 70, com a
priorização dos programas de educação compensatória, em meros instrumentos didáticos. A
autora observou mais recentemente uma tendência das pré-escolas brasileiras em trabalhar
com as crianças através de materiais didáticos, brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos de
ensino e alfabetização como fins em si mesmos, descontextualizando seu uso dos processos
cognitivos e históricos experienciados pelas crianças.
Assim, a maioria das escolas tem didatizado a atividade lúdica das crianças
restringindo-as a exercícios repetidos de discriminação viso motora e auditiva, através do uso
de brinquedos, desenhos coloridos e mimeografados e músicas ritmadas. Ao fazer isso, ao
mesmo tempo em que bloqueia a organização independente das crianças para a brincadeira,
essas práticas pré-escolares, através do trabalho lúdico didatizado, enfatizam os alunos, como
se sua ação simbólica servisse apenas para exercitar e facilitar para o professor, a transmissão
de determinada visão do mundo, definida a priori pela escola.
“É fundamental que se assegure à criança o tempo e
os espaço para que o caráter lúdico do lazer seja
vivenciado com intensidade capaz de formar a base
sólida para a criatividade e a participação cultural e,
sobretudo para o exercício do prazer de viver, e
viver, como diz a canção ... como se fora brincadeira
de roda...” MARCELLINO (1996,p.38).
É papel da educação formar pessoas críticas e criativas, que criem, inventem,
descubram, que sejam capazes de construir e reconstruir conhecimento. Não devem
reproduzir simplesmente o que os outros já fizeram, aceitando tudo o que lhe é oferecido. Daí
a importância de se ter alunos que sejam ativos, que cedo aprendam a descobrir, adotando
assim uma atitude mais de iniciativa do que de expectativa.
Considera-se função da educação infantil promover o desenvolvimento global da
criança; para tanto é necessário considerar os conhecimentos que ela já possuí, proporcionar a
criança vivenciar seu mundo, explorando, respeitando e reconstruindo. Nesse sentido a
Educação Infantil deve trabalhar a criança, tomando como ponto de partida que esta é um ser
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com características individuais e que precisa de estímulos para crescer criativa, inventiva e,
acima de tudo crítica.
A brincadeira na pré-escola, deveria ser a estratégia fundamental a ser utilizada pela
escola.
AMORIM (1986), embasa que quando é colocado na prática as atividades lúdicas, o que
tem verificado na maioria das pré-escolas é uma forma combinada de orientações; ênfase na
disciplina e exercícios de adestramento para o ensino fundamental.
A criança quando chega na escola traz consigo uma gama de conhecimento oriundo da
própria atividade lúdica. A escola, porém, não aproveita estes conhecimentos, criando com
isto uma separação entre a realidade vivida por ela na escola.
A escola agindo desta forma estará comprometendo a própria espontaneidade da
criança, que não se sentirá tão a vontade em sala de aula a ponto de deixar fluir naturalmente
sua imaginação e emoção.
A ação de brincar segundo ALMEIDA (1994), é algo natural na criança e por não ser
uma atividade sistematizada e estruturada acaba sendo a própria expressão de vida da criança.
RIZZI e HAYDT convergem para a mesma perspectiva quando afirmam:
“O brincar corresponde a um impulso da criança, e
este sentido, satisfaz uma necessidade interior, pois
o ser humano apresenta uma tendência lúdica”
(1987,p.14).
O lúdico aplicado à prática pedagógica não apenas contribui para a aprendizagem da
criança, como possibilita ao educador tornar suas aulas mais dinâmicas e prazerosas.
CUNHA (1994), ressalta que a brincadeira oferece uma “situação de aprendizagem
delicada”, isto é, o educador precisa ser capaz de respeitar e nutrir o interesse da criança,
dando-lhe possibilidades para que evolua em seu processo, ou do contrário perde-se a riqueza
que o lúdico representa.
Neste sentido é responsabilidade do educador na educação infantil ajudar a criança a
ampliar de fato as suas possibilidades de ação. Proporcionar à criança brincadeiras que
possam contribuir para seu desenvolvimento psicosocial e consequentemente para sua
educação.
Atualmente, o jogo está presente também entre aqueles que estudam as representações
mentais. Entre os teóricos mais relevantes que subsidiam esta perspectiva, encontram-se os
expoentes da psicologia genética como Wallon, Piaget, Vygotsky, Bruner e outros que
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mostram a importância do jogo para o desenvolvimento infantil ao propiciar a descentração
da criança, a aquisição de regras, a expressão do imaginário e a apropriação do
conhecimento. Há ainda pesquisadores que se dedicam à análise de representações sociais a
cerca da concepção de jogo, dentro de uma perspectiva interdisciplinar. Estudos de natureza
etnográfica, histórica e psicopedagógica integram-se neste eixo propiciando uma nova frente
de análise do jogo. Entre os últimos pode-se citar o trabalho pioneiro de Piaget sobre o
desenvolvimento infantil, integrando aspectos morais, sociais e cognitivos, a partir da análise
do jogo de bolinha de gude em situações do cotidiano.
“As funções essenciais da inteligência consistem em
compreender e inventar, em outras palavras,
construir estruturas estruturando o real. E, de fato, é
cada vez mais patente que estas duas funções são
indissolúveis e que, para compreender um fenômeno
ou acontecimento, é preciso reconstruir as
transformações de que elas são resultantes, e ainda,
para reconstituí-las, faz-se mister primeiramente
elaborar uma estrutura de transformação, o que
supõe uma parte de invenção ou de reinvenção”
PIAGET apud Oliveira(1998,p.91).
Há de se planejar brincadeiras diversificadas e lhes facilitar a experimentação. É
necessário estimular a participação ativa e a imaginação criadora, pois conforme
VYGOTSKY (1991), quando a criança brinca por exemplo de “faz de conta”, atinge estágios
de desenvolvimento.
Quem apenas sugere que a criança deva brincar ou quem tenta controlar suas
brincadeiras em demasia, está tolhendo os horizontes lúdicos da criança.
KISHIMOTO afirma que “Se a atividade lúdica não for de livre escolha e seu
desenvolvimento não depender da própria criança, não se tem brincadeira, mas trabalho”
(1994,p.35).
O lúdico enquanto recurso pedagógico deve ser encarado de forma séria e usado de
maneira correta, pois como afirma ALMEIDA (1994), o sentido real, verdadeiro, funcional da
educação lúdica estará garantida se o educador estiver preparado para realizá-lo.
Considerando a importância do jogo na aprendizagem da criança é relevante
destacarmos o papel do professor, que deve intervir de forma adequada, deixando que o aluno
adquira conhecimentos e habilidades, sendo que qualquer atividade por ele realizada na escola
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visa sempre a um resultado, e uma ação dirigida e orientada para a busca de finalidades
pedagógicas.
Segundo GARCIA (1995), o professor deve dar sentido as atividades de sala de aula,
sabendo que cada atividade traz a possibilidade de novas aprendizagens e provoca novos
desenvolvimentos.
Sendo o jogo entendido como ação livre, tendo um fim em si mesmo, iniciado e
mantido pelo aluno, pelo simples prazer de jogar deve ser em um lugar atraente que
possibilite a sua exploração. Nesse sentido o ambiente pré-escolar deve encorajar as crianças
a fazerem uma série de descobertas ao lhe dar estímulos imediatos para o seu sucesso. A
criança necessita de oportunidades para correr, pular, balançar-se de forma livre e espontânea.
Daí, a necessidade de estar em espaços amplos e abertos.
A educadora FERREIRO (1989), já apontava para importância de se oferecer a criança
ambientes agradáveis onde se sinta bem e a vontade, pois a criança deverá se sentir como
parte integrante do meio em que está inserida.
O ser humano se constrõe, através do movimento que realiza organizando e criando
novas experiências. Assim como afirma LUCKESI (1994), através do lúdico e da criatividade
a escola torna-se um lugar privilegiado para construir a vida humana na direção de sua
plenitude.
Conceber o lúdico como atividade apenas de prazer e diversão, negando seu caráter
educativo é uma concepção ingênua e sem fundamento. A educação lúdica é uma ação
inerente na criança e no adulto e aparece sempre como uma forma transacional em direção a
algum conhecimento.
A criança aprende através da atividade lúdica a encontrar na própria vida, nas pessoas
reais, a complementação para suas necessidades. Para tanto, OLIVEIRA comenta: “Privar a
criança de agir, é incapacitá-la para própria vida” (1998,p.112).

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