sábado, 17 de março de 2012

A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA

A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA Andréia Maria Rodrigues de Souza Sandra Cristina Vanzuita da Silva Cila Alves dos Santos Machado sandravanzuita@hotmail.com Palavras-chave: Intervenção, leitura e escrita Resumo O presente artigo traz as reflexões a cerca do estudo realizado durante o estágio de prática de ensino do curso de Pedagogia do Centro de Educação de Balneário Camboriú da UNIVALI. Para que a leitura e a escrita tornem-se mais prazerosa e efetiva é preciso proporcionar à criança vivenciar experiências significativas. A aquisição da leitura e da escrita deve ocorrer sem traumas e medos. Para isso é preciso intervir de forma a despertar na criança querer e compreender seu significado. O professor precisa oferecer à criança a possibilidade de compreender a linguagem escrita como um instrumento de comunicação e um objeto de conhecimento. Caso isto não ocorra, a escrita tornar-se um elemento cuja validade fica restrita ao meio ambiente escolar, porque serve somente para "aprender", para receber uma nota ou para passar de ano. Sendo assim, por meio da reflexão na ação do estágio supervisionado foi possível viabilizar a (re) significação do ato pedagógico, direcionando o olhar para a questão de como o professor deve intervir na leitura e na escrita de forma significativa e prazerosa. Tal questão constitui o eixo norteador do dialogo entre o professor-pesquisador-reflexivo e a prática pedagógica. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada em um escola particular do município de Balneário Camboriú, com 16 crianças de uma turma de educação infantil com idade entre 5 e 6 anos. No primeiro momento observamos a intervenção da professora e as ações das crianças durante as atividades de leitura e escrita. Posteriormente realizamos a intervenção por meio da Pedagogia de Projetos, a qual surge da necessidade de desenvolver um trabalho pedagógico que valorize a participação do educando e do educador no processo ensino-aprendizagem, tornando-os responsáveis pela elaboração e desenvolvimento de cada projeto de trabalho. ____________________________________ Introdução A aquisição da linguagem escrita é objetivada principalmente como forma de interação, manifestada por meio dos diversos usos sociais construídos no seu contexto e na sua cultura. No processo de aprendizagem da leitura e da escrita aprender sobre as funções destas é tão importante quanto aprender sobre suas formas. Goodman (1995), afirma que as práticas escolares muitas vezes apresentam a escrita como um objeto de contemplação, ou seja, é permitido às crianças olhar e reproduzir, não sendo possível experimentá-la ou transformá-la. Desta forma, a escrita é um objeto de propriedade de outrem e não pode pertencer às crianças. É um objeto que não pode ser transformado, alterado, ou recriado por meio de intercâmbios sociais. Nesse perspectiva é necessário que se tenha clareza de que a intervenção do professor na aprendizagem da leitura e da escrita é de grande importância, este deve "[...] ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita das letras" (VYGOTSKY 1991, p.134), para ter significado e tornar-se uma necessidade ou mesmo uma tarefa que possam incorporar a vida. Desta forma a escrita deixa de ser uma habilidade motora para torna-se uma forma nova e complexa de linguagem. Segundo Luria (1998), escrever e ler são funções culturais e pressupõe-se o uso funcional de certos objetos e expedientes como signos e símbolos, portanto requer uma mediação de alguém que domine este sistema de signos e símbolos pertencentes ao sistema alfabético. Caberá ao professor organizar situações que possibilitem às crianças refletirem sobre o processo de construção da linguagem escrita. Assim surgiu a questão de que forma o professor deve intervir no processo de Leitura e Escrita para que os alunos aprendam de forma significativa e prazerosa? Para buscar respostas a esta questão, optou-se pela pesquisa qualitativa, participativa, por considerá-la eficaz para o estágio supervisionado, devido ao rigor científico, constituindo o investigador o instrumento principal. O estágio foi desenvolvido em uma escola da rede privada do município de Balneário Camboriú, com 16 crianças de uma turma da educação infantil com idade entre 5 e 6 anos. A coleta dos dados ocorreu em dois momentos distintos. No primeiro, através de observação no ambiente natural, procuramos registrar em diário de campo a intervenção da professora e as ações das crianças durante as atividades de leitura e escrita. No segundo momento ocorreu a intervenção através da Pedagogia de Projetos, a qual surge da necessidade de desenvolver um trabalho pedagógico que valorize a participação do educando e do educador no processo ensino-aprendizagem, tornando-os responsáveis pela elaboração e desenvolvimento de cada projeto de trabalho. Ao desenvolver um projeto aluno realmente participa, vive a experiência positiva do confronto com os outros, toma decisões, planeja, assume responsabilidades, enfim, torna-se agente de sua aprendizagem. Por isso, foi possível perceber que nos momentos de brincadeiras e conversas livres na sala de aula as crianças mantinham interações entre elas administrando conflitos e divergências. Por meio da oralidade expressam com facilidade o que gostam e o que não gostam, o que querem e o que não querem. São bastante falantes e gostam de fazer perguntas. O trabalho com projetos elaborado em conjunto, professor-criança, é uma maneira de conseguir uma aprendizagem significativa para a criança, pois parte das necessidades básicas do ator principal do processo pedagógico, que é a criança. Num projeto, a responsabilidade e a autonomia dos alunos são essenciais, os alunos são co-responsáveis pelo trabalho e pelas escolhas ao longo do desenvolvimento do projeto. Implicações Pedagógicas para a leitura e a escrita A leitura e a escrita têm sido tradicionalmente consideradas como objeto de uma instrução sistemática, onde o sujeito que aprende praticamente desaparece. O objeto da língua escrita é dado de tal maneira que a criança o percebe como algo que não pode ser modificado, devendo ser apenas recebido, nunca transformado. Desta maneira, se exige da criança uma atitude de respeito cego. A aprendizagem da leitura e da escrita de forma tradicional é dada elemento por elemento, supondo que a soma linear dos elementos leve à totalidade. Assim se avança letra por letra, sílaba por sílaba, palavra por palavra. Desta forma, o fácil e o difícil são determinados de acordo com a visão do adulto já alfabetizado, sem levar em consideração que a definição de fácil e difícil também pode ser estabelecida pela criança. E nem sempre o que parece fácil ao sujeito alfabetizado é fácil para quem não está alfabetizado. Luria (1998) menciona que a criança entra em contato com a escrita antes de iniciar na escola, "bem antes da primeira vez que o professor coloca um lápis em sua mão e lhe mostra como formar as letras." ( LURIA, 1998, p.143) A escrita não deve ser considerada cópia de um modelo. Pois se acredita que quando é encara como técnica de reprodução do traçado gráfico ou como um problema de regras de transcrição do oral, se desconhece que, além do aspecto perceptivo-motor, escrever é uma tarefa de ordem conceitual. Embora seja necessária a presença de modelos - enquanto ocasião de desenvolvimento dos conhecimentos – a escrita não é cópia passiva e sim interpretação ativa dos modelos do mundo adulto. Longe da caligrafia e da ortografia, quando uma criança começa a escrever, produz traços visíveis sobre o papel, mas, além disso, põe em jogo suas hipóteses acerca do próprio significado da representação gráfica. A escrita não pode ser considerada um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções sociais e tem meio concreto de existência (especialmente nas concentrações urbanas). O escrito aparece para criança, como objeto com propriedades especifica e como suporte de ações e intercâmbios sociais. É inúmero as amostrar de inscrições nos mais variados contextos (letreiros, embalagens, tevê, roupas, periódicos, etc). Os adultos fazem anotações, lêem cartas, comentam os periódicos, procuram um número de telefones, etc. Isto é, produzem e interpretam a escrita nos mais variados contextos. Por isso, os conhecimentos prévios das crianças em relação à linguagem escrita devem ser levados em consideração ao iniciar na educação infantil. Ensinar não é apenas transmitir informações a um ouvinte. Ë ajudá-lo a transformar suas idéias. Para isso é preciso conhecê-lo, escuta-lo atentamente, compreender seu ponto de vista e escolher a ajuda certa de que necessita para avançar.(CURTO; MORILLO;TEXIDÖ, 2000, p.68) De acordo com os estudos de Emilia Ferreiro (1992), na linguagem escrita a criança também constrói ativamente o conhecimento. Portanto a escrita infantil evolui a partir de diversas situações educativas e de diversas línguas. Desta forma, podem ser distinguidos três grandes períodos dos quais cabem múltiplas subdivisões: a)distinção entre o modo de representação icônico e o não-icônico; b) a construção de formas de diferenciação (controle progressivo das variações sobre os eixos qualitativos e quantitativos); c) a fonetização da escrita (que se inicia com o período alfabético). No primeiro período, a criança consegue estabelecer a distinção entre o que é desenhar e o que é escrever.Ao desenhar se está no domínio do icônico; as formas dos grafismos importam porque reproduzem a forma do objeto. Ao escrever está fora do icônico; as formas dos grafismos não reproduzem a forma do objeto. O segundo período é caracterizado pela construção de modos de diferenciação entre encadeamentos de letras, baseando-se alternadamente em eixos de diferenciação qualitativos e quantitativos. O terceiro período é o que corresponde à fonetização da escrita, que começa por um período silábico e culmina no período alfabético. Nos dois primeiros períodos, o escrito não está regulado por diferenças ou semelhanças entre os significados sonoros. É a atenção às propriedades sonoras do significante que marca o ingresso no terceiro período. É importante que o professor conheça como se constituem estes períodos, para que aceite como válidas todas aquelas respostas das crianças que, por estranhas ou erradas que possam parecer-nos, pois evidenciam as suas conceituações sobre os problemas que enfrentam. Sabendo interpretar as produções escritas das crianças o professor terá mais possibilidades de criar maneiras para que estas avancem no processo de construção da escrita. Á partir do momento que o professor considera o que o aluno já sabe sobre a escrita e a leitura, sua intervenção será significativa e eficiente. O uso funcional da linguagem escrita No entender de Freinet (1977), é tateando experimentalmente, comparando intuitivamente suas realizações escritas com textos manuscritos ou impressos com os quais mantém contato, que a criança pouco a pouco vai percebendo e corrigindo as discrepâncias existentes entre a sua concepção de escrita e a escrita convencional. Assim, considera-se como ponto de partida para a ação pedagógica a expressão livre da criança e sua produção oral, transcrita inicialmente pelo professor. A espontaneidade verbal associado ao aprendizado da escrita cria condições favoráveis para o desenvolvimento do processo de apropriação da escrita operada pela criança. Ela, intuitivamente, passa a perceber, pouco a pouco, as diferenças que caracterizam a língua falada e a língua escrita. O que favorecerá a passagem da expressão oral para a expressão escrita de forma mais natural. Segundo Santos(1996), neste ponto de vista pedagógico quatro aspectos são considerados de grande importância para o desenvolvimento do processo de alfabetização: a) a compreensão do significado do ato de ler e escrever; b) o desejo de ler e escrever; c) a oportunidade de a criança realizar tateios experimentais no campo da escrita; d) a possibilidade de contato permanente com a língua escrita. É necessário motivar as crianças para que despertem o desejo e a necessidade de aprender a ler e escrever, ou seja, possibilitar as crianças situações que as levem a mobilizar-se. Assim, facilitará o domínio da língua escrita. Charlot (2000) afirma que a motivação necessita de uma força que impulsiona a criança a mobilizar-se, ou seja, é uma força geradora de fora para dentro. No entanto, a mobilização é produzida a partir de forças internas. A provocação do desejo é constante na prática Freinet. Desde as classes do ensino pré-escolar, a criança vivencia, por meio das atividades desenvolvidas, da organização geral dos trabalhos e da exploração pedagógica do caráter funcional da escrita, múltiplas situações em que o uso instrumental da língua escrita é evidenciado. Para que a criança aprenda linguagem escrita de forma mais prazerosa e produtiva, é preciso proporcionar um clima gostoso e descontraído na classe, onde seu ritmo será sempre respeitado, seu desenvolvimento, como um todo, será estimulado e lhe serão fornecidos os meios e as condições necessárias para que também realize seus tateios no campo da escrita. Teberosky e Colomer (2003), pensam o currículo da Educação Infantil em quatro eixos: entrar no mundo da escrita; apropriar-se da linguagem escrita; escrever e ler; produzir e compreender textos escritos. Tais eixos estão presentes durante a observação e a intervenção realizada no estágio o que é percebido nas situações a seguir: Entrar no mundo da escrita favorece ao aluno o contato com diferentes suportes e portadores de textos. Neste sentido, no período de observação, realizamos a motivação para elaborarmos o Projeto que envolveria o uso funcional da leitura e a escrita. Iniciamos explicando às crianças que elas deveriam sair da sala para que pudéssemos fazer algumas modificações. Do lado de fora as crianças esperavam ansiosamente para descobrirem o que estávamos preparando. Organizamos a sala com tapetes e cangas no chão, espalhamos diferentes materiais de escrita, (livros de literatura, livros didáticos, bula de remédio, uma carta em um envelope gigante destinada às crianças, mapa, lista telefônica, embalagens, rótulos, cartazes nas paredes com símbolos e palavras) folhas de papel sulfite, giz de cera, papel pardo fixado na parede e uma música para proporcionar um ambiente ainda mais agradável. Antes das crianças entrarem na sala mostramos a placa com os símbolos de "pare" que fixamos na porta, assim, perguntamos se sabiam o que representavam. Após identificarem o que representava a placa às crianças entraram na sala com muito cuidado e ficaram somente observando sem tocar em nada. Assim que explicamos as crianças que poderiam manusear o que quisessem, começaram a utilizar os materiais. Logo depois em assembléia, conversamos com as crianças sobre o que elas encontraram em comum em todos os materiais. Assim que identificaram que a escrita estava em todos os materiais, fizemos o planejamento cooperativo para levantarmos o que já sabiam sobre a escrita e o que gostariam de saber. Desta forma surgiu a questão "por que ler e escrever é importante?” Apropriar-se da linguagem escrita é uma dimensão que está relacionada com a participação em situações de escrita onde a escrita adquire significação. Esta dimensão está relacionada à freqüência com que as crianças se comunicam com leitores e escritores, e à participação em atividades de leitura compartilhada para aprender as expressões próprias da linguagem dos livros. É importante que, na escola, o mundo da escrita se complete com o mundo dos livros. (TEBEROSKY; COLOMER, 2003, p.85). Valorizar a atividade de leitura como forma de lazer ativo, de crescimento pessoal, aliada ao desejo de apropriação cultural, constitui uma das habilidades básicas de maior significado. Como se sabe, a leitura é um processo de contínuo aprendizado, assim, salienta-se que desde cedo, é preciso formar um leitor que tenha um envolvimento integral com aquilo que ele lê. De maneira que a cada leitura se possa adquirir mais profundidade e intimidade com o texto, que se consiga estabelecer um diálogo, fazendo perguntas e buscando respostas, seja o texto uma história, uma fábula, um conto de fadas ou qualquer outro. Nesse sentido, pode-se mencionar ainda que a leitura, além de produzir um contínuo aprendizado, desenvolve a reflexão e o espírito crítico. (CAGNETI, 1986, p.23) Escrever e ler: "Esta dimensão faz referência ao processo de compreensão da escrita, assim como a compreensão das relações entre oralidade e escrita, entre escrever e ler”.(TEBEROSKY; COLOMER, 2003, p. 86) Neste sentido, após trabalharmos a letra da música "Sopa do neném" sugerimos às crianças fazermos uma sopa na escola. A sugestão foi prontamente aceita pela maioria. Assim, surgiu a necessidade de confeccionarmos uma lista dos produtos que deveríamos comprar no mercado para fazermos a sopa. As crianças ditavam o que deveria colocar na lista é nós transcrevíamos em uma folha fixada no quadro. "Mesmo antes de o menino e a menina serem capazes de escrever por si mesmos, podem ditar para um adulto, que fará as vezes de "escriba". O propósito do ditado ao adulto é o de ajudar a produzir um estilo de linguagem."(TEBEROSKY; RIBEIRA, 2004, p.63) As crianças constróem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. “O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e (re) significação.” (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. pág.21). No caminho ao mercado tivemos a possibilidade de observar diferentes placas, cartazes, outdoor. Chamamos a atenção das crianças para estes portadores de escrita perguntando o que poderia estar escrito neles. Após as crianças explicitarem suas idéias em relação ao que poderia estar escrito, fazíamos a leitura para elas. "Para que as crianças compreendam a importância da leitura em suas vidas, é necessário que elas observem e se dêem conta para que e em que situações usam textos, elas e as pessoas adultas." (CELIS, 1998, p. 121) No mercado fizemos a leitura da lista de compras para que as crianças pudessem nos ajudar a selecionar o que deveríamos comprar. Analisamos os elementos microtexual existente nas embalagens de alguns produtos como data de validade, ingredientes. Falar, conversara [...], desenhar, rabiscar e pintar, brincar, escrever e ler, atribuir sentido, são sistemas simbólicos instituídos pela sociedade para a comunicação expressão e a aprendizados pelas crianças nas suas interações sociais. Por essas vias criam-se leitores e escritores com várias possibilidades de expressão. (ABRAMOWIC; WAJSKOP, 1997, p.69). Partindo desta perspectiva, quando as crianças voltaram, em roda conversamos sobre o que o observaram no mercado e também no caminho. Após manipularam, contaram, nomearam, compararam e denominaram os produtos comprados.Após fizeram o desenho e a escrita espontânea destes produtos. Os esquemas de conhecimento que as pessoas formam ao longo de sua vida servem-lhes para prever, contrastar e interpretar qualquer informação[...]. O conjunto de esquemas que cada um de nós possui conforme nossa visão particular do mundo. O conhecimento que construímos sobre nosso meio e sobre nós mesmos, facilita nossa compreensão pelo fato de oferecermos uma tela com muitos níveis automatizados na qual podemos colocar novos dados. (COLOMER,T; CAMPS, A., 2002, p.47) Tal afirmação foi possível observar durante uma atividade de leitura de história compartilhada em que ocorre o seguinte episódio. Uma menina fala para a professora: "Professora aconteceu alguma coisa comigo igual o que aconteceu com a menina da história, eu esqueci de fazer alguma coisa importante". A professora comenta: "Eu também já esqueci de fazer uma coisa importante, por isso agora, as coisas que eu preciso fazer eu anoto em um papel e deixo em um lugar que eu possa ver". A menina acrescenta: "Então a tua casa é toda colada com papel?" A professora responde: "Não é toda colada com papel, mas quando eu preciso deixo anotado." Neste episódio percebe-se que para a compreensão do texto a menina ativa alguns esquemas de conhecimentos pertinentes ao texto lido pela professora. "Os conhecimentos prévios que o leitor utiliza podem ser descritos e agrupados em dois itens: conhecimentos sobre o escrito e o conhecimento sobre o mundo." (COLOMER;T; CAMPS, A.,2002,p.49) Diante do que foi exposto neste artigo, percebe-se que para a leitura e a escrita se tornarem mais prazerosa e significativa é preciso que o professor de educação infantil tenha a preocupação de permitir as crianças o acesso a atos funcionais e significativos de leitura e escrita que despertem o desejo de se apropriarem da língua padrão, em todos os seus usos e complexidade. A aquisição da língua escrita é objetivada, não só em termos da construção de um sistema de representação gráfica, pela criança, mas principalmente como forma de interação, manifestada através dos diversos usos sociais construídos no seu contexto, na sua cultura. Na educação Infantil é preciso possibilitar às crianças interagirem com os mais variados tipos de texto existentes no ambiente em que vivem cartazes, letreiros, placas, anúncios, rótulos, embalagens, receitas, bulas, catálogos, revistas, jornais, almanaques, enciclopédias utilizados no cotidiano da classe, sempre em situações concretas de uso social. A Além dos livros de literatura infantil, são importantes também as oportunidades de utilização da escrita funcional: escrever (em dupla, individual ou coletivamente) bilhetes, recados, mensagens, convites, notícias, como ato de comunicação, para um leitor real e não apenas para o professor corrigir. Essa interação com o uso social da língua escrita provocará a compreensão da escrita como sistema de representação que amplia as possibilidades de comunicação interpessoal. Referências ABRAMOWIC, A; WAJSKOP, G. Creches: Atividades para crianças de zero a seis anos. São Paulo: Moderna, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAGNETI, S.Livro que te quero livre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. CELIS, G. I. Aprender a formar crianças leitoras e escritoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. COLOMER,T; CAMPS,A. Ensinar a ler ensinar a compreender.Porto Alegre: Artmed, 2002. CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria: Porto Alegre. Artes Médicas Sul, 2000. CURTO; MORILLO;TEXIDÓ. Escrever e ler: Como as crianças aprendem e como o professor pode ensina-las a escrever e a ler. Porto Alegre, Artmed, 2000. FERREIRO, E.Com todas as letras.São Paulo: Cortez, 1992. FREINET, C. O método Natural I: a aprendizagem da língua. Lisboa: Editorial Estampa Ltda, 1977. GOODMAN, Y. Como as crianças constroem a leitura e a escrita: perspectivas piagetianas. Artes Médicas, Porto Alegre, 1995. LURIA, A. O desenvolvimento da escrita na criança. In: VYGOTSKY, L. S; LURA, A. R; LEONTIEV, A. N. 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